TIRAR PRA DANÇAR, LEVAR TÁBUA E CHÁ DE CADEIRA - EXPRESSÕES DA ÉPOCA


Interessante refletir sobre a nossa querida língua portuguesa e perceber como ela é capaz de refletir o espírito de toda uma época. E nunca é tarde para enfatizar que a língua é sempre expressão da cultura, transformando-se continuamente a fim de servir à comunicação humana.

Nos bailes em que nós do Emi Eni Sete tocávamos nos idos de 1960, a iniciativa para uma dança era sempre uma prerrogativa masculina: cabia ao homem analisar quem se sentava às mesas que circundavam a pista de dança, fazer a sua escolha e seguir no sentido de "tirar uma moça para dançar". 

A resposta para o convite (aceno de cabeça, uma piscadela ou então um "Vamos dançar?") poderia ser um receptivo "sim" ou, o que não era tão raro acontecer, um seco "não". Neste caso, da negativa, a dama "dava tábua" (recusava o convite) e cavalheiro, por seu lado, "levava tábua" (era rejeitado). E levar uma tábua podia ser interpretado como uma grande ofensa, principalmente quando o companheiro queria "abrir o salão" e tinha de voltar para trás em função da recusa da pretendida parceira

Quando uma moça seguia para uma reunião dançante e não era tirada para dançar, dizíamos que ela levava um "chá de cadeira" (ficava esperando por um tempo prolongado). E esse chá era um verdadeiro martírio para muitas moças de então...

E como se dançava juntinho, por vezes de "rosto colado", surgiam muitas piadas que nasciam da situação. Como esta, muito conhecida na época:


Um sujeito estava dançando com uma moça high society e sentiu um cheiro danado de cecê vindo dela. Então perguntou:

- Desculpe a curiosidade, que perfume a senhorita está usando?

E ela prontamente respondeu:

- Branca de Neve.

E o rapaz então retrucou:

- Então vê se não tem um anãozinho morto debaixo de um dos seus braços!

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Uma história que corria como verdadeira - e não vou aqui revelar os nomes -aconteceu no baile de inauguração do salão do Clube Náutico na segunda metade da década de 1950.


O rapaz tinha tomado todas, estava totalmente bebum, contando estrelas de olhos abertos. Quando a orquestra (diziam ser a Cassino de Sevilha) começou a tocar, ele olhou para os seus companheiros de bar e disse:

- Eu vou abrir o baile com a Fulana de Tal, a mulher mais bonita deste lugar...

De fato, numa mesa de pista se sentava a Fulana de Tal, com um vestido branco rodado, cinturinha fina (outra característica da moda da época) e um penteado tipo cacho-de-abelha na base do laqué. Parecia uma deusa naquela mesa ao lado da pista.

O rapaz, meio cambaleando de bêbado, cruzou o salão logo ao primeiro acorde da orquestra. Posicionou-se firmemente na frente da mesa da Fulana, chegou bem perto para fazer o convite no seu ouvido e.... não houve tempo nem dizer nada, pois subiu-lhe um puta enjoo e ele acabou vomitando em cima dela. 

Viche - tem gente que jura que isso foi verdade!


Ezequiel, guitarrista do Emi Eni Sete


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