CHEGAR NA HORA DE COMEÇAR O BAILE? NUNCA JAMAIS!


Sou filho de costureira de interior e tenho muito orgulho das tantas mulheres que minha Mãe fez feliz através dos vestidos que produzia com as suas hábeis mãos. Um dia ainda reflito e narro mais longamente sobre as obras de costura, a moda e as suas relações com a vida das moças do interior paulista - tem muita coisa dentro de desse baú.

Dentre as múltiplas aprendizagens como filho de costureira e, ao mesmo tempo, guitarrista do Emi Eni Sete, se coloca aquela com o "horário das moças chegarem no baile", principalmente aquelas que estavam estreando vestidos, comprados feitos (geralmente fora de Santa Cruz do Rio Pardo) ou então feitos por uma costureira local, como minha Mãe.

Chegar de vestido novo no início de um baile era uma coisa quase proibitiva, pois, julgo eu, as moças não poderiam dar o seu show particular e nem mostrar o vestido novo para uma platéia maior. Tacitamente, o costume era chegar o mais atrasadamente possível no baile para então ser mais notada.

Assim, conforme eu podia constatar como músico (tocando e observando antenado aos acontecimentos por todo o salão), caso o baile se iniciasse às 23:00 h, as moças com vestidos novos começavam a adentrar o clube depois da 01:30 h da madrugada, assim sucessivamente, chegando ao cúmulo de algumas darem as caras quase às três da madrugada, curtindo apenas uma hora de dança, pois os bailes da época geralmente se encerravam às quatro da madruga em ponto.

E havia algumas garotas que aguardavam dentro do carro ou no jardim, fora do clube, para não entrar no salão junto com as concorrentes de vestidos novos. Era como se fosse um desfile de moda, com entradas individuais sucessivas, principalmente quando a música não estava tocando. 

Quanto mais tarde, melhor... quanto mais tarde, mais admirada. Quanto mais tarde, menos curtição da música e da dança. Era por aí que a coisa andava: vá entender as mulheres santa-cruzenses da década de 1960!!!!!!

Ezequiel, guitarrista do Emi Eni Sete


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